A menina ouvia com atenção os colegas da nova classe, que se apresentavam ao grupo contando coisas diversas sobre si ou seus familiares.
Um menino disse que seu pai era dentista e gostava de futebol; uma menina contou que seus avôs tinham fugido da Alemanha na segunda Guerra Mundial, e que trouxeram na mala alguns pães duros para não passarem fome; outra ainda, destacou as habilidades de seu cachorro, que era treinado a obedecer todos os seus comandos de voz; e assim por diante...
Enquanto ouvia, a menina tentava elencar o que de mais interessante poderia contar para chamar a atenção dos demais. Pensou em dizer o quanto gostava de tocar violão ou sobre sua recente experiência da Disney, mas quando chegou sua vez, de tão nervosa acabou contando o que não havia planejado.
-“Sou filha única e sempre quis ter irmãos. Na verdade, queria ter um irmão mais velho... meus pais dizem que se tivessem mais filhos eu não poderia ter tudo o que tenho. Não estaria nesta escola, nem faria ballet e a natação que tanto gosto, apesar de minha deficiência.”
A conversa continuou até que o sinal do intervalo interrompeu a dinâmica. A professora então chamou a menina em sua mesa e lhe perguntou:
- “ Você tem deficiência, querida?”
- “Sim, professora. A senhora não tem?”
-“Não, respondeu-lhe prontamente, mas esse seu problema não é aparente, não é mesmo?”
- “Sim professora. Ele só aparece quando estou nadando.”
- “Como assim?”
- “É que todos os alunos da minha escola de natação já conseguem atravessar a piscina mergulhando, e eu ainda não. Sou deficiente nisso.”
O olhar sincero e despojado de preconceitos da menina chamou-me a atenção. Quantas deficiências temos nós todos, considerados perfeitos e normais? Por que insistimos em segregar e até desestimular a vencer os limites, aqueles que nos parecem limitados? Com um pouco de treino certamente a menina vencerá o desafio do mergulho, como também o treino e a inclusão podem capacitar cada individuo em sua deficiência.
Incluir é mais do que integrar.
Incluir é treinar e estimular aquele que, por qualquer motivo, ainda não conseguiu desempenhar uma determinada atividade. Agora responda: você também não tem uma deficiência?
Jô Gallafrio é escritora e jornalista
PENSEM! REFLITAM! POIS TODOS NÓS TEMOS ALGUMA DEFICIÊNCIA, E ESTÁ MAIS DO QUE NA HORA DE SENSIBILIZARMOS E INCLUIRMOS AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS EM TODOS OS SEGMENTOS SOCIAIS.
Abraços inclusivos!
Diones
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