domingo, 16 de dezembro de 2012

TRABALHO COLABORATIVO ENTRE PROFESSOR ESPECIALIZADO E PROFESSOR DA SALA DE AULA

ARTICULAÇÃO ENTRE ESCOLA COMUM E EDUCAÇÃO ESPECIAL: AÇÕES E RESPONSABILIDADES COMPARTILHADAS

CONCEITUAÇÃO DE TRABALHO COLABORATIVO

A Educação Especial é uma área de conhecimento e passa a ser concebida pela Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) como sendo uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades e realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem de alunos com deficiências.

Para atender às especificidades dos alunos públicos - alvo da educação especial, no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla, orienta-se a organização curricular que favoreça o desenvolvimento de todos os alunos e o desenvolvimento de práticas colaborativas na escola regular.

Nos últimos anos tem-se defendido a perspectiva colaborativa na prática do professor do atendimento educacional especializado. O trabalho articulado entre o professor do AEE com o trabalho do professor da sala de aula foi previsto também nas Diretrizes da Educação Especial na Educação Básica e Profissional para a Rede Estadual de Ensino e tem respaldo na Circular Estadual CI/CIR/SEDU/SEEB/GEJUD/Nº22, no qual foi determinado um tempo para realização desta função primordial. Essa prática educacional foi recomendada pela Resolução 2/2001 e impulsionada pela produção de conhecimentos.

A Res. nº 4/2009 retrata várias atribuições do professor especializado, dentre a quais cita o trabalho colaborativo com a sala de aula comum:

Estabelecer a articulação com os professores da sala de aula comum e com demais profissionais da escola, visando à disponibilização dos serviços e recursos e o desenvolvimento de atividades para a participação e aprendizagem dos alunos nas atividades escolares; bem como as parcerias com as áreas intersetoriais. (grifos meus, BRASIL, p.5).

Segundo o Parecer     CNE/CEB Nº 17/01, o projeto     pedagógico de uma escola inclusiva deverá atender ao princípio da flexibilidade para que o acesso ao currículo seja adequado às condições do aluno, favorecendo seu processo escolar.

Para que a inclusão escolar ocorra é necessário que a escola regular ofereça para os alunos ótimas condições de ensino-aprendizagem, sendo necessário, então,modificações na sua estrutura, principalmente no que diz respeito ao oferecimento dos serviços da Educação Especial na escola regular e na classe comum.

Se vamos pedir às escolas para diversificar sua resposta e criar serviços adaptados a populações que antes nunca lá estiveram, é essencial que mais recursos e materiais sejam endereçados a escola. A educação inclusiva pressupõe uma escola com uma forte confiança e convicção de que possua os recursos necessários para fazer frente aos problemas. (RODRIGUES, 2006, p.310).

Dentro desta perspectiva, o trabalho colaborativo pode ser compreendido como uma rede de recursos a ser utilizado pelo professor da educação regular para o sucesso escolar dos alunos com necessidades especiais. A proposta de trabalho colaborativa visa proporcionar o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas mais bem-sucedidas, uma vez que propõem uma parceria de trabalho entre profissionais da educação especial e profissionais da educação comum. O objetivo desta parceria de trabalho é o desenvolvimento de metodologias de ensino, adaptações curriculares, modelos de avaliação, etc., mais adequadas para o sucesso da aprendizagem e socialização do aluno com necessidades especiais na instituição escolar regular. (COOK & FRIEND, 1995, p.4).

A inclusão requer outro tipo de apoio que reconheça a resposta à diversidade como uma responsabilidade compartilhada. Quer dizer, todos os profissionais que estão envolvidos no processo de educação de qualquer estudante que em um momento determinado apresente uma necessidade específica devem colaborar em busca de respostas a essas necessidades. É assim que o modelo de apoio que é preciso é o conhecido como modelo colaborativo, institucional ou curricular. (PARRILLA & DANIELS, apud, DÍEZ, 2004, p.20).

 A mesma autora acima retrata que o professorado deve assumir que a colaboração deve ser o fio condutor em sua prática profissional; que é necessário planejar para todos, incrementando as oportunidades de participação; que o apoio à diversidade é responsabilidade de todos e não exclusivamente do profissional de apoio; e que é a formação no lugar de trabalho o cenário privilegiado para melhorar as práticas educativas.

 O ensino colaborativo deve envolver uma parceria de um professor do ensino comum e de um professor da educação especial. A atuação desta parceira de trabalho deve ocorrer dentro de um mesmo espaço físico: a classe comum. No entanto, os professores também podem se encontrar em outros espaços para realizarem planejamento, trocarem opiniões, experiências etc. Esta modalidade de trabalho pode ser considerada uma alternativa para as classes especiais e para as classes de recursos, em que o aluno com necessidades educativas especiais vai freqüentar o mesmo espaço que os demais, não sendo, portanto, segregado. (COOK & FRIEND, 1995, p.6).

A colaboração foi definida pelo Friend e Cook (2003, apud, DÌEZ, 2010) como um estilo de trabalhar, que, segundo estes autores,responde aos seguintes princípios:

_ É voluntária. Portanto, não se pode obrigar a ninguém a trabalhar em colaboração.

_ Requer uma relação igualitária entre os distintos participantes. Entende-se que são valorizadas igualmente as contribuições de cada pessoa e que as relações que são estabelecidas são simétricas.

_ Está apoiada em objetivos mútuos. As pessoas que colaboram devem compartilhar ao menos um objetivo.

_ Depende da responsabilidade compartilhada para participar e tomar decisões. Isto quer dizer que se colaborar assume a responsabilidade de se comprometer ativamente na atividade e tomada de decisões.

_ As pessoas que colaboram compartilham recursos. Cada pessoa que se compromete em uma atividade colaborativa contribui com recursos que ajudam a alcançar o objetivo comum.

_As pessoas que colaboram compartilham responsabilidade para alcançar os resultados. Todos os participantes são responsáveis pelos resultados obtidos, sejam positivos ou negativos. (p.21).


Para que possa ocorrer à colaboração deve haver igualdade entre os profissionais envolvidos e a colaboração deve ser voluntária. Ambos os profissionais envolvidos devem estabelecer os objetivos esperados para o aluno, aceitação mútua de responsabilidades e o julgamento comum das decisões principais, ou seja, o professor de educação especial e professor da classe comum se responsabilizam pelo planejamento e avaliação do ensino para um grupo misto de estudantes com alunos com necessidades especiais incluídas. (GATELY & GATELY, 2001, p.41).

Com relação à colaboração, é necessário que as escolas questionem o que fazem e planejem como podem construir uma cultura colaborativa. Entendida esta como uma “forma de trabalhar juntos para resolver as dificuldades, planejar e desenvolver mudanças, criando uma organização que se compromete a resolver os problemas, formando uma organização de aprendizagem que utiliza o conhecimento e os recursos existentes.” (DÍEZ, 2010, p. 21).

De fato, parece que o professor especialista não deve assumir o papel do professor da classe regular, mas adquirir um conhecimento mais sólido do currículo e dos conteúdos, essencial à colaboração, de forma que facilitaria as modificações para beneficiar a todos os alunos. A ausência dessa familiaridade pode limitar a confiança do professor da classe comum no professor especialista, dificultando a aceitação de suas sugestões. (grifos meus, CAPELLINI; MENDES, 2007).

Segundo a autora Vera Lúcia Capellini, dentre as várias atribuições do professor do AEE, uma delas é constituída pela função de colaborar na identificação das potencialidades dos alunos com deficiência, bem como suas necessidades educacionais especiais. (2010).

O professor de AEE deve acompanhar a trajetória acadêmica de seus alunos, no ensino regular, para atuar com autonomia na escola e em outros espaços de sua vida social. Para tanto, é imprescindível uma articulação entre o professor de AEE e os do ensino comum. (grifo meu, MANTOAN,  et al, 2010).

Os autores Bueno (1999) e Carvalho (2003) apontam que um ensino de qualidade na perspectiva da educação inclusiva envolve tanto professores do ensino comum - com conhecimento teórico e prático sobre o atendimento à diversidade – quanto aos professores “especialistas”, para atender diretamente a essa população ou para apoiar o trabalho realizado pelos professores de classes comuns.

Bueno (1999, apud, CAPELLINI, 2007) aponta a necessidade de capacitação de dois tipos de profissionais: professores do ensino comum com formação básica para lidar com a diversidade e professores especializados, os quais trabalhariam como equipe de atendimento e apoio.

A interação entre colegas de turma, a aprendizagem colaborativa, a solidariedade entre alunos e entre estes e o professor devem ser estimuladas. Os professores, quando buscam obter o apoio dos alunos e propõem trabalhos diversificados e em grupo, desenvolvem formas de compartilhamento e difusão dos conhecimentos nas salas de aula. Essa é uma estratégia também de trabalho colaborativo que pode ser um recurso precioso para auxiliar a aprendizagem dos alunos com deficiências.

Vera Lúcia Capellini destaca também que nesta busca pela colaboração o professor especialista deve buscar ajuda na família do aluno:

No trabalho de apoio, a participação da família é imprescindível. Cabe também ao professor especializado conhecer os recursos disponíveis no município em que atua e, mais do que isso, buscar possíveis parcerias, promover visitas educativas aos espaços públicos e oportunizar a vivência de situações nas quais os alunos possam desenvolver a autonomia. (2010, p. 14).


Segundo a mesma autora acima, que a Educação Especial na escola deve conhecer as características de seu trabalho para não avançar sobre aquele da classe comum. A dialética que se estabelece entre o professor da sala comum e o professor especializado devem ser evidentes para ambos. Cabe ao último a competência para prover o serviço de apoio especializado ao aluno com deficiência.

Espera-se, com isso, que os profissionais envolvidos trabalhem juntos e dividam o planejamento, a apresentação, a avaliação e o manejo da classe visando à construção de ambientes de ensino-aprendizagem mais satisfatórios para os alunos com necessidades especiais. Dentre os benefícios do co-ensino, pode-se citar o fato de a colaboração oferecer oportunidades para capitalizar conhecimentos especializados e gerais entre ambos os profissionais envolvidos.

Mas é imprescindível que as escolas analisem quais são as barreiras que impedem o desenvolvimento, a colaboração e que atuações poderiam levar adiante para ir gerando, pouco a pouco, práticas de colaboração com resultados positivos para todos.
Assim, o planejamento do professor da sala de recurso deve ter como parceira a equipe escolar, a partir daí se pensar em quais: as condições necessárias para o aluno acessar o conhecimento, pensar em atividades de interesse do aluno; pensar nos mecanismos de colaboração com os professores da própria escola ou demais profissionais que por ventura atendam o aluno: as orientações e elaboração de material didático-pedagógico ou a utilização de outros materiais a serem utilizados pelos alunos com deficiência na classe comum. (grifo meu, CAPELLINI, 2010, p.114).


 Quadro sintético do apoio e trabalho colaborativo do professor especializado junto com os professores das salas de aula.

Plano de atendimento aos alunos deverá conter:

Articulação professor classe comum e sala de recursos
- Um plano de trabalho contendo sugestões que poderão ser adaptadas a realidade de cada escola.
- Participação nos conselhos de classe.
 -Avaliar o rendimento através dos exercícios e qualquer avanço que o aluno venha ter em relação ao seu comprometimento
- Planejamento em conjunto com o professor regente relacionando o conteúdo a ser trabalhado dentro das possibilidades de aprendizagem do aluno
- Adequar o uso da linguagem, postura corporal ao explicar aos alunos.
- Exercícios diferenciados.
- Uso de material concreto adequado ao conteúdo
- Mobilizar os demais alunos, conscientizando-os na colaboração, na afetividade e aceitação do aluno com NEE.
- Elogiar os avanços

- Reunião de pais para estarem conscientes do trabalho de sala de recursos e sua importância no seu crescimento no ensino regular
- Dar pequenas tarefas extras possíveis de serem realizadas.
- Reunião com os profissionais da escola para conhecimento e esclarecimentos sobre a educação inclusiva.
- Dar exercícios pequenos, dosados, intercalando com momentos leves recreativos.
- Conhecer a realidade do aluno dentro e fora da escola com reuniões trimestral de pais dentro da escola.
- Trabalhos diversificados, teatros, danças...
- Interação família e escola.
- Observar as reações do aluno nas aulas de educação física, trabalho em grupo, recreio e brincadeiras dirigidas.
- Observar as reações do aluno nas aulas de educação física, trabalho em grupo, recreio e brincadeiras dirigidas.
- Exercícios diferenciados/ Expor os trabalhos dos alunos como forma de valorização.
- Participar das atividades extras da escola
- Vencida uma etapa passar a outra, graduando as dificuldades.
- Vencer uma etapa passar a outra, graduando as dificuldades.

Fonte: Superintendência Regional de Educação de Barra de São Francisco.

Enfim, de acordo com a autora Vera Capellini e Enicéia Mendes: A força da colaboração encontra-se na capacidade de unir as habilidades individuais dos educadores, para promover sentimentos de interdependência positiva, desenvolver habilidades criativas de resolução de problemas e apoiar um ao outro, de forma que todos assumam as responsabilidades educacionais. (grifo meu, 2007, p. 125).

O apoio na sala de aula não é apenas estar ali observando, mas demonstrando e agindo para que o professor(a) veja a ação como um modelo a ser seguido.

É recomendável, portanto, que a escola comum incorpore em seu projeto político pedagógico a participação dos profissionais de apoio e áreas de assessoramento considerando-se as modalidades e estratégias a serem implementadas, a distribuição do tempo, as metodologias de ensino que favorecem a inclusão, etc.





REFERÊNCIAS


AZEVEDO, Maria Antonia R. de; CUNHA, Gracilliani R. da. Gestão Escolar e Educação Inclusiva: uma parceria necessária e emergente na escola.  Revista EDUCAÇÃO: Teoria e Prática - v. 18, n.31, jul.-dez.-2008, p.53-72


CAPELLINI Vera Lúcia M. F.; MENDES, Enicéia. O ensino colaborativo favorecendo o desenvolvimento profissional para a inclusão escolar. In.: Educere et Educare Revista de Educação, vol. 2, n. 4, jul/dez, 2007, pp. 113-128.


CAPELLINI Vera Lúcia M. F. Construindo uma rede de colaboração: a importância da Educação Especial na construção de uma escola inclusiva. Disponível em: < http://www. >UNESP, BAURU. Acesso no dia: 17/07/2012.


CARVALHO, R.E. Removendo Barreiras para a Aprendizagem - 3a edição. Porto Alegre: RS. Editora Mediação, 2003.

CASARIN, Sônia. Um trio afinado. Revista Nova Escola - Edição Especial. INCLUSÃO – como ensinar os conteúdos do currículo para alunos com deficiência. Julho/2009 São Paulo, Editora Abril AS, 2009, p. 66.

COOK, L & FRIEND, M. Co-teaching: Guidelines for creating effective practices. Focus on Exceptional Children, nº 28, pp, 1-16, 1995.

DÍEZ, Anabel Moriña. Traçando os mesmos caminhos para uma educação inclusiva. Revista Inclusão. V.5, n.1, p. 16-25, jan/jul. Brasília: 2010.


ESPÍRITO SANTO. SEDU - Secretaria Estadual de Educação do Estado. Portaria estadual CI/CIR/SEDU/SEEB/GEJUD/Nº22, de 11/10/2011. SEDU. Vitória: 2011. Dispõe sobre a organização das salas de recursos no Estado do Espírito Santo.

GATELY, S. E.; GATELY, F. Understanding co-teaching components. The Council
for Exceptional Children, v.33, n.4, pp.40-47, 2001.


MANTOAN, M.T. E. et al. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar – a escola comum inclusiva. Coleção da UFC/MEC/SEESP. BRASIL, 2010.

Artigo elaborado por Diones Barcelos Bragança, para ser estudado numa reunião pedagógica junto com os pedagogos e professores especializados.


LEMBREM-SE UMA DAS FUNÇÕES IMPORTANTES DOS PROFESSORES DAS SALAS DE RECURSOS É AJUDAR O PROFESSOR DA SALA DE AULA, SENDO SEU CONSULTOR, E NAO APENAS ATENDEDOR DE ALUNOS.  É ELIMINAR AS BARREIRAS QUE IMPEDE O ALUNO PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ALCANÇAR O CONHECIMENTO E A APRENDIZAGEM.


ABRAÇOS INCLUSOS!
DIONES

3 comentários:

  1. Obrigada pelo riquíssimo material. Parabéns.

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  2. É necessário que os professores das salas comuns, conheçam esta orientação para que possam compreender melhor os objetivos do professor do AEE. Muito esclarecedora. Obrigada.

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  3. É necessário que os professores das salas comuns, conheçam esta orientação para que possam compreender melhor os objetivos do professor do AEE. Muito esclarecedora. Obrigada.

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