REFLETINDO SOBRE RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA ESCOLA
É preciso lidar com diferenças e mudanças
DENISE DA SILVA MAIA
Psicóloga e Mestre em Educação – RS
O cotidiano da escola implica uma série de relações: professor / aluno, professor / pais, professor / direção etc. quando as coisas correm bem, não damos conta da complexidade envolvida nessas relações. Mas, raramente, não ocorrem problemas no terreno das relações humanas. Conflitos, desencontros, choques de interesses, rivalidades, disputas estão freqüentemente presentes e nos vemos às voltas com situações que atrapalham o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
Como refere Lauro de Oliveira Lima, apesar de costumeiramente se afirmar que o homem é um animal social, a sociabilidade não parece uma tendência natural do homem. “É provável que a sociedade deste animal individualista tenha provindo antes da raridade os recursos de sobrevivência e da fragilidade anatômica de seus instrumentos de ataque e de defesa que de um instinto gregário misterioso e indefinível. A dificuldade com que se submete à vida comunitária é bem prova de que não nasceu para a cooperação, embora possua infinitas possibilidades de agir através de um sistema cooperativo, assim como as pedras de xadrez, apesar de seu individualismo, produzem número incontável de jogadas de conjunto”.
Cada um de nós, como participante da instituição, traz consigo uma bagagem, composta por experiências anteriores, conhecimentos, expectativas, crenças, valores, hábitos, sentimentos, mecanismos de defesa etc. é através dessa nossa história prévia que olhamos para o que está a nossa volta; é a partir dela que os fatos adquirem sentido para nós. Não percebemos as coisas e as pessoas da mesma forma: cada um tem uma maneira própria de perceber e de interpretar aquilo e aqueles que se encontram ao seu redor, pois somos seres únicos, diferentes.
Como afirmar Eizirik, estamos constantemente percebendo e formando impressões sobre aqueles que nos cercam, sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos. A percepção não é completamente objetiva ou neutra, mas, sim seletiva, pois só percebemos aquilo que somos capazes e desejamos conhecer. Outra característica desse processo é que aumentamos ou diminuímos determinados fatos ou situações, como através de um filtro, dependendo das emoções envolvidas e de nossa capacidade de absorver a ansiedade despertada. A estreita relação entre emoção e julgamento, portanto, torna impossível uma percepção totalmente objetiva e imparcial.
A questão do rótulo
Além disso, há outros fatores em jogo. Em determinadas situações, não conseguimos resistir à influencia da avaliação global sobre a avaliação de atributos específicos. É o caso típico do rótulo; se alguém ou alguma coisa foi por nós rotulado de forma positiva, devido a alguma característica, tendemos a avaliar todas as outras características de forma positiva, também. O oposto se dá com os rótulos negativos. Depois de estabelecido, o rótulo mantém-se fortemente, pois percebemos, muito mais facilmente, ou valorizamos, muito mais intensamente, fatos que o confirmam do que aqueles que colocam em dúvida. Outra tendência é a de classificarmos e julgarmos a nós mesmos e a quem gostamos com brandura e a sermos rigorosos com aqueles com que não simpatizamos. Isso também só faz confirmar nossos conceitos iniciais, sejam eles positivos ou negativos. Há, ainda, os estereótipos, que são idéias pré-concebidas, com pouca ou nenhuma base real, e as expectativas, que nos levam a agir de forma a provocar nos outros reações que as confirmam e validam.
Todos esses mecanismos são formas de garantirmos algum grau de conforto conosco próprios, mantendo ou restabelecendo o equilíbrio de nossas estruturas.
A convivência não é tarefa fácil. Contudo, nas diversas esferas de nossa vida, temos que vivem em grupo – em relação com outras pessoas. No trabalho escolar isso se acentua, pois todas as relações interpessoais, que apontamos há pouco, se dão dentro de grupos, refletindo sobre eles, ao mesmo tempo que são por eles influenciadas. Emergem, então, as diferenças, surgem conflitos, tensões, atritos, ocorrem mudanças de instituição.
É muito difícil lidar com as diferenças e com as mudanças. Tendemos a rejeitar o novo, o diferente, pois o desconhecido desperta medo e ansiedade.
Mudanças e conflitos:
Muitas vezes, a necessidade ou a ocorrência de mudanças geram grandes conflitos, justamente pela ansiedade que despertam. Estamos propensos a ver somente as perdas implicadas na mudança e a não ver ou não valorizar os possíveis ganhos, principalmente quando a mudança não foi por nós desejada. Surgem, então, resistência, ações ou omissões no sentido de impedir a mudança ou tentativas de resolver rapidamente o problema, de forma a restabelecer a situação anterior. Freqüentemente, são soluções paliativas, que não resolvem verdadeiramente a questão que surgiu, mas apagam, momentaneamente o incêndio, proporcionando alívio. Contudo, mais adiante, a mesma questão mal resolvida retorna e se reinicia todo o processo.
Esse padrão de funcionamento – apagar os incêndios que surgem, sem ir à raiz, às causas – pode se tornar tão cristalizado que passa a ser a forma rotineira de lidar com os problemas, empurrando com a barriga as dificuldades do quotidiano. Certamente isso traz prejuízos: empobrece a qualidade do trabalho, emperra a comunicação, a instituição torna-se rígida, sem agilidade e as relações entre pessoas tendem a ser cada vez mais estereotipadas. Percebemos que as posições estão se tornando cada vez mais polarizadas e que ninguém estão disposto a mexer-se.
Torna-se, assim, cada vez mais difícil fazer frente aos obstáculos que, inevitavelmente, vão surgindo. Nesse contexto, trabalha-se sob estresse quase permanente.
Enfrentar o problemas costuma ser muito mais produtivo, apesar de mais difícil e doloroso, pois, ao invés de sair, temos que entrar nele. Só assim, é possível fazer uma avaliação, um diagnóstico mais realista e dimensionar mais adequadamente a dificuldade que se apresenta. Esse é o primeiro passo para superá-la. Só então se pode buscar alternativas, encontrar aquela que seja a mais satisfatória naquele momento e naquelas condições, ou seja, encontrar a solução possível. Porém, freqüentemente, não se consegue atingir a alternativa ideal, o que pode provocar frustração e desânimo. Em se tratando de questões grupais, o consenso, por exemplo, é um objetivo utópico, irrealizável, pois os envolvidos tem objetivos divergentes, além de serem diferentes uns dos outros como pessoas e terem formas diferentes de perceber e entender as coisas.
É conveniente ter em vista, também, que a solução satisfatória de hoje poderá não sê-lo mais amanhã. Isso não significa, necessariamente, que o problema não foi adequadamente resolvido; as pessoas e as instituições mudam, evoluem e surgem novas necessidades, obrigando-nos a procurar novas soluções.
Buscar alternativas em conjunto facilita o processo, pois há mais gente envolvida e, portanto, mais chances de se chegar a uma solução mais satisfatória; fortalece o grupo, pois se criam ou se intensificam os laços entre as pessoas; aprofunda-se o conhecimento de uns sobre os outros e de cada um sobre si mesmo, como elemento desse grupo. Isso é verdadeiro tanto na dimensão de um problema de sala de aula, envolvendo professor e aluno, quanto entre professores no grupo de trabalho ou entre professores e equipe de direção ou entre escola e família. O conflito pode, assim, ser construtivo, porque busca alternativas para sua superação, onde grupos e indivíduos cresçam.
Contudo, é preciso aprender a lidar com os conflitos e a trabalhar coletivamente. Há aí uma aprendizagem a ser construída e que implica a necessidade de negociação constante entre os envolvidos. É preciso que descubramos, que inventemos maneiras de aproveitar construtivamente as diferenças. Às vezes, pode ser necessário buscar ajuda externa, o que pode significar solicitar o auxilio de alguém da própria escola, não diretamente envolvido na situação que se tenta resolver, ou de alguém que não faça parte da instituição.
Enfrentar as próprias contradições, dúvidas e incertezas não é fácil, mas ninguém pode fazê-lo por nós. Entretanto, os fios que podem compor um novo tecido estão em nossa experiência pessoal, na consciência que dela obtemos, nos quadros de referencia que escolhemos, naqueles que trabalham conosco, desde que sejamos capazes de alargar nossos conceitos e prática, incluindo-os e tecendo com eles, como nos informam Eizirik e outros.
Muitas vezes é e será necessário desfazer, recuar, rever, retomar esse processo que é artesanal, mas assim o tecido será mais forte, mais autentico. Não o podemos fazer sem sofrimento, assim como ele não será possível sem prazer. E essa tem sido uma dimensão freqüentemente esquecida nas práticas pedagógicas: o prazer de aprender, o prazer de conviver, o prazer do trabalho, criação, tanto para alunos quanto para professores.
Referência:
Revista do Professor, Porto Alegre (Abril/Junho de 1995).
ALGUMAS MENSAGENS QUE PODEM SER USADAS PARA REFLEXÕES E SENSIBILIZAÇÃO DE UMA ESCOLA INCLUSIVA:
A QUEM POSSO CHAMAR EDUCADOR:
Primeiro, àqueles que enfrentam bem as circunstâncias com que se deparam no dia-a-dia...
Depois, àqueles que são honrados em suas relações com todos os homens, agüentando com facilidade e bom humor aquilo que é ofensivo para outros, então sendo tão agradável e razoável com seus companheiros quanto é humanamente possível...
Àqueles a quem o sucesso não estraga, que não fogem do seu próprio eu, mas sim, se mantêm firmes, como homens de sabedoria e sobriedade.
ORAÇÃO DAS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE DEFICIÊNCIA
Bem aventurados os que compreendem
o meu estranho passo ao caminhar.
Bem aventurados os que compreendem
que, ainda que os meus olhos brilhem,
minha mente é lenta.
Bem aventurados os que olham
e não vêem a comida que eu deixo cair fora do prato.
Bem aventurados os que, com um sorriso nos lábios,
me estimulam a tentar mais uma vez..
Bem aventurados os que nunca me lembram
que hoje fiz a mesma pergunta duas vezes.
Bem aventurados os que compreendem
que me é difícil converter em palavras meus
pensamentos.
Bem aventurados os que escutam,
pois eu também tenho algo a dizer.
Bem aventurados os que sabem o que
sente o meu coração,
embora não o possa expressar.
Bem aventurados os que me amam como SOU,
tão somente como sou,
e não como eles gostariam que eu fosse.
Extraído da Publicação – “Informaciones para
Padres de ninõs y jovenes com N.E” – Serrano, J.A.
Abraços inclusos a todos! aproveite o texto promova um debate a respeito da diversidade existente no contexto escolar.
Diones
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