terça-feira, 25 de dezembro de 2012

TEXTO REFLEXIVO:REUNIÕES E PLANEJAMENTOS

OS DIFERENTES

(Artur da Távola, Jornal do Brasil, s/d)

Diferente não é quem o pretenda ser. Este é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente. Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errado. Para os outros! Que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não agüentarem, caso um dia venham a ser. O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição. O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido com ele por pessoas menos sensíveis e avisadas. Crendo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são desprezados, vitórias são adiadas; esperanças são mortas.

Um diferente medroso, este sim acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou. Os diferentes muito inteligentes entendem por que os outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porquê de quem o agride. O diferente pago sempre o preço de estar, mesmo sem querer, alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente agüenta no lombo a raiva dos que se dizem iguais; a inveja dos comuns; o ódio dos normais. O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que sempre está certo.

O diferente começa a sofrer cedo, desde o primário, onde todos os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns professores por omissão (principalmente os mais grossos), se unem para transformar o que é especial e potencial de cada um, em defeito e motivo de gargalhadas. O que é rapidez e profundidade de pensamento em “-puxa, fulano, como você é complicado”. O que é o início de um estilo próprio de ser em “Você não está vendo como é que todo mundo
faz?”

O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações nos quais acaba transformando-se. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores. Diferente é o que vê mais longe do que o que a maioria vê. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber. Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno gargalham. Diferente é o que: engorda mais um pouco, chora onde outros xingam; estuda onde outros burram, burram onde os outros estudam. Quer onde outros cansam.

Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde o hábito faz tudo ficar sempre igual. Sofre onde os outros
ganham.

Diferente é o que: fica doendo onde só há alegria. Aceita empregos que ninguém aceitaria. Perde horas em coisas que só ele sabe importantes. Engorda onde não deve. Fala sempre na hora de calar. Cala sempre nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol porque gosta mais de jogar do que de ganhar.
Diferente é o que aprendeu a não ligar para o riso, o deboche, a ironia e a ter consciência dolorosa de que a média é má porque é igual. Os diferentes aí estão: doentes; paralíticos; machucados; engordados; magros demais; bonitos demais; inteligentes em excesso, muito devagar, muito rápidos, bons demais para aquele cargo, narigudos; barrigudos, joelhudos, de pé grande; feios; de roupas erradas; cheios de espinha; de manha, de malícia ou de baba; os diferentes aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.

A alma dos diferentes é feita de uma luz além. A estrela dos diferentes tem moradas lindas que eles guardam para os poucos que forem capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão os maiores tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.

 REFLEXÕES

Com base no texto de Artur da Távola, reflita qual seu papel como professor no processo deinclusão do aluno público alvo da Educação Especial?

Qual método pode elaborar e utilizar para a inclusão de seus alunos?

E ainda, qual sua postura política diante da inclusão?

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